domingo, 10 de fevereiro de 2008

A ponte emblemática

Um dos principais temas nas rodadas amazonenses é a construção da grande ponte sobre o Rio Negro, que interligará Manaus aos municípios de Manacapuru, Iranduba e Novo Airão.
Trata-se de um mega-projeto, orçado inicialmente a R$ 500.000.000,00. O Amazonas sobrevive em torno da riqueza de sua capital, uma cidade estado, nos moldes das antigas cidades gregas (Esparta, Atenas). Não obstante a pujança do Parque Industrial aqui montado, possuímos inúmeros problemas sociais básicos a serem resolvidos. Saúde insuficiente a uma população que cresce a ritmos acelerados (mais de 3% ao ano), escolas que não comportam todos os alunos, ausência total de infra-estrutura básica civil em muitos bairros da periferia, apenas pra citar alguns exemplos. A concentração de renda no município de Manaus não foge à regra das grandes metrópoles do País. Vejamos um pequeno trecho do Relatório de Desenvolvimento Humano em Manaus, editado conforme os padrões do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD:

“O IDHM de Manaus era de 0.774, apresentando UDHs com valores entre 0,658, na UDH SÃO JOSÉ – Grande Vitória, e 0,943, na UDH NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS - Vieiralves / ADRIANÓPOLIS. Essa variação no valor do IDHM – 0,285 – é praticamente igual a observada entre os municípios do Amazonas com mais baixo e mais alto IDHM, respectivamente, Ipixuna, com 0,487, e Manaus, com 0,774. A grande diferença entre um caso e outro está no nível do indicador. As UDHs de Manaus estão em um patamar mais alto: enquanto os municípios vão das categorias1 Baixo ao Médio-Alto, as UDHs vão do Médio-Médio ao Alto Desenvolvimento Humano”


Ora, calcular não é pecado. Exercitando superficialmente a veia de engenheiro se pode concluir que, com esse valor, poderia construir-se:
- 250 escolas, cada uma custando R$ 2 milhões, ou;
- 10 hospitais, cada um custando R$ 50 milhões.

Haveria sem dúvida um grande choque nas áreas de saúde ou escolar, com o incremento do recurso acima listado.
Quanto se pensa na estrutura do interior do estado, os dados são alarmantes.
Alguns municípios apresentam IDH menor que 0,499, ou seja, baixo desenvolvimento humano. Exemplos são Tapauá, Ipixuna e Uarini. Todavia, toda essa pobreza convive com a riqueza da Metrópole. Um pouco de distribuição de renda seria importante para o desenvolvimento humano desses longínquos locais, muitas vezes esquecidos pelo poder público, ressalvando-se as épocas eleitorais.

Mas então, conclui-se que a construção da ponte não traria benefício algum ao Estado? Acredito que traria sim. Ela integraria Manaus a um importante município do interior - Manacapuru. Promoveria inúmeras oportunidades de turismo, agropecuária, além do que valorizaria de forma exponencial os imóveis da outra margem do Rio. Livraria também a população de um serviço pessimamente prestado pelas balsas de travessia do Rio Negro. Tornaria viável a construção de portos nesses municípios, até para desafogar a estrutura cada dia mais insuficiente do transporte fluvial da região. Resolveria um grande problema de escoamento da produção rural, principalmente do pequeno produtor, que sempre era fadado ao ostracismo por não ter condições de transportar o seu produto a capital do estado, pelo simples fato de não existir logística para isso.
Quanto aos argumentos acima, não discute-se. O problema é que, do ponto de vista de prioridades, acredito que isso poderia esperar um pouco mais, uma vez que no Amazonas ainda existe grande índice de mortalidade infantil, de analfabetismo, de crianças que não têm acesso ao ensino básico, de falta de hospitais e de médicos no interior e comunidades ribeirinhas, dentre outras mazelas típicas de estado de terceiro mundo.
Se houvesse um planejamento estratégico, de Estado, que estivesse acima de interesses políticos inevitáveis, poderia se pensar em médio prazo na construção dessa e de outras pontes indubitavelmente necessárias para o desenvolvimento da região. Agora, quem garante que, se perdermos essa oportunidade agora, a teremos no futuro?

Eis a questão!

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